Seria um OVNI ou uma ovelha?
Estava uma noite muito escura.
Vagueava eu pelos campos alentejanos com uma lanterna na mão e uma Sagres na outra. Ouvia os grilos, as corujas, os sapos, os cães a ladrar lá nos montes ao fundo, o vento a bater nas árvores e o rugido dos amortecedores dos carros que por ali pairavam escondidos entre os olivais onde os casais iam aliviar o seu desejo sexual. Via a lua quase escondida, os grilos que esmagava violentamente com as minhas galochas autografadas pelo Bob Marley , as corujas que desmaiavam quando sentiam o meu hálito podre a álcool, os sapos que eu pontapeava intensa e repetidamente contra as arvores onde faziam um barulho do tipo: “ tsloc! ” e os vidros dos carros escondidos que eu partia com pedradas. Só não ouvi nem vi um pequeno gatinho, que se encontrava ali meio despedaçado, dava a entender que havia sido atropelado e torturado por um tractor, no qual tropecei e caí. Quando me levantei reparei que tinha a blusa cheia de merda, pois havia ali uma bosta de vaca na qual eu acertei. Tinha as mãos completamente escalavradas e a sangrar abundantemente, o nariz completamente despedaçado, uma lasca de madeira espetada no olho direito, entrou-me uma barata para o ouvido, uma fractura exposta no joelho esquerdo e … Oh NÃO!!! A garrafa Sagres estava tombada uns metros mais a frente e já sem qualquer pinga de cerveja… não queria acreditar no que estava a acontecer …. Era impensável estar no meio do campo sem uma cerveja! Um grande dilema surgia. O que fazer? Voltava para traz para ir buscar outra? Ou continuava o passeio e arriscava-me a desidratar a meio do caminho onde os bichinhos se iriam apoderar do meu cadáver despedaçando-o até desaparecer?! Pensei alguns minutos e cheguei a uma conclusão: “vou seguir em frente e mostrar a mim mesmo que sou capaz de completar esta longa caminhada sem beber”. Segui então por aquela estradinha já velhinha.
(alguns segundos depois … )
“Não … eu fui tão parvo … eu não devia ter continuado sem a minha cerveja!!” – dizia eu desesperado já sem força, com uma respiração muito fraca e uma visão muito turva … Não aguentava mais … ajoelhei-me, olhei para o céu e arrotei. Deparava-me com o meu fim, todos os meus planos, todas as minhas colecções incompletas de cromos do bollycao e dos tazos da matutano seguiam por água abaixo … quem iria completar estas colecções? Estava triste … uma lágrima descia-me pela cara limpando algum do sangue que já começava a secar… até que … comecei a ver lá ao fundo duas luzes meio amareladas de onde provinha uma buzina ensurdecedora e uma voz que dizia com extrema simpatia: “ Sai da estrada caralho!!”.
O que seria? Um OVNI? Uma ovelha? Não sei … até hoje não sei…
(Acordei algumas horas depois num hospital, cheio de ligaduras e agulhas espetadas por todo o lado, do qual fugi e corri de seguida para o café beber uma cerveja … )
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